quinta-feira, 25 de setembro de 2008

LEGADO QUINTO

um romance, cujo personagem principal é uma puta que enloquece e que se chama ...Vida. Contado por alguém que a amou além de qualquer limite. (a Vida)
acompanhou-a durante muito tempo (a Vida)
quase enloqueceu por causa dela (da Vida), tentando salvá-la (a Vida)
E que termina por perdê-la (a Vida).
Esta metáfora (ou jogo de palavras) me parece tão estupidamente concreta que me fascina.


AUTO-AJUDA
Faço 72 anos no domingo. O Teatro Tablado resolveu fazer uma festa em minha homenagem dia 27, sábado. Então, em 27, 72. Prometi uma daquelas besteiras, uma carta que será lida para os jovens estudantes por este ancião que vos fala. Uma espécie de carta para um jovem ator. Como se eu fosse um Rilke ao poeta. Não escreverei agora porque não posso estragar a surpresa, mas começa assim:

Foi grande a minha emoção no nosso primeiro encontro.

Eu vi a avidez com que vocês queriam saber da vida para então inserir o teatro dentro dela. E nesse dia de aniversário, eu gostaria de transmitir a vocês um resumo de aniversariante, a respeito do que andei aprendendo nesses últimos 72 anos. Para depois receber perguntas a respeito. Da minha vida ou obra ou o que quiserem. Não se trata de um homem mais velho falando para os jovens. Penso que todos temos a mesma idade, que é irrelevante, não há diferença de 50 ou 60 anos quando a aventura humana tem por tempo o tempo todo, a eternidade.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

LEGADO QUARTO

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Sempre tive vontade de escrever um filme que começa com passos de uma mulher na rua, decididos e apressados, que fundem para outros passos, da mesma mulher na mesma rua, 10 anos depois. O ruído dos saltos... daí em diante, se desenvolvem duas estórias paralelas. Do dia em que ela, personagem, deixou a casa dos pais pela primeira vez para ir morar sozinha e do dia em que ela abandonou o primeiro marido e grande amor. É só isso.


E basta.






AUTO-AJUDA:

(aqui vai o texto que termina minha peça e meu filme "Separações". Ele me veio inteiro, quase que ditado, num acordar, durante o final dos ensaios da peça. O escritor às vezes tem esses rompantes, chamando de inspiração. Então quis colocar o texto no final da peça. E depois, no filme. Mas achei que os atoes não iam gostar. Iam afinal, ficar inseguros com tantas palavras no final. Não é costume terminar peças ou filmes com discursos filosóficos. Então resolvi mentir. E dizer que aquele era um texto Caldaico que eu tinha descoberto em certo National Geographic. Um texto achado numa escavação arqueológica requintadíssima. Que eu tinha apenas traduzido. Achei que assim os atores poderiam me levar a sério. Menti. Deu certo. E mantive essa mentira até o final da montagem do filme. Isto é, por mais de dois anos. Acho que só a Priscilla sabia. O santo de casa não faz milagre, sábios de casa, então... não têm chance. O respeitado filósofo já morreu no mínimo há 50 anos.)



O HOMEM LÚCIDO


O homem lúcido sabe que a vida é uma carga tamanha de acontecimentos e emoções que nunca se entusiasma com ela, assim como não teme a Morte. O homem lúcido sabe que viver e morrer são o mesmo em matéria de Valor, posto que a Vida contém tantos sofrimentos que a sua cessação não pode ser considerada um mal.

O homem lúcido sabe que é o equilibrista na corda bamba da existência. Sabe que, por opção ou acidente, é possível cair no abismo, a qualquer momento, interrompendo a sessão do circo.

Pode também o homem lúcido optar pela Vida. Aí então ele esgotará todas as suas possibilidades, passeará por seu campo aberto e por suas vielas floridas.

Saberá ver a beleza em tudo. Terá amantes, amigos, ideais. Urdirá planos e os realizará.

Resistirá aos infortúnios e até às doenças. E, se atingido por algum desses emissários, saberá suportá-los com coragem e mansidão.

Morrerá o homem lúcido de causas naturais e em idade avançada, cercado por filhos e netos que seguirão sua magnífica aventura.
Pairará então sobre sua memória uma aura de bondade. Dir-sé-á: aquele amou muito e fez bem às pessoas.

A justa lei máxima da natureza obriga que a quantidade da acontecimentos maus na vida de um homem iguale-se sempre à quantidade de acontecimentos favoráveis. O Homem lúcido que optou pela Vida, com o consentimento dos Deuses, tem o poder magno alterar esta lei. Na sua vida, os acontecimentos favoráveis estarão sempre em maioria. Esta é uma cortesia que a Natureza faz com os homens lúcidos.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

LEGADO

Repetiei aqui, comentadamente, a parte desta sessão que foi iniciada no outro blog. Para que o legado fique inteiro.



LEGADO PRIMEIRO!
...Gostaria de ter escrito uma estória baseada na vida real. (qual estória não é baseada na vida real?) de uma mulher chamada Maria, de repente descobre que tem AIDS e só pode ter pego de um caso antigo, com quem teve um encontro recente, chamemos de João. O único com quem transou sem camisinha, só pode ter sido dele. E foi só uma noite, depois nunca mais viu.
Então ela vai procurá-lo, desesperada e possessa, para dizer que ele não tinha o direito de fazer isso com ela. Que ele é um assassino.
João leva um enorme susto. Não sabia que tem AIDS. Faz o exame, que dá positivo. Aí ele tem certeza que pegou dela. Ele vai reclamar, chamá-la de assassina.
Nessa pequena trama moderna, jamais saberemos quem pegou de quem a doença. Porém, na aventura de descobrir, os dois, igualados pela infelicidade, acabam por afeiçoar-se, apaixonam-se, casam e estão felizes até hoje. Sem camisinha. Que aliás, é um bom título. * Isso me soa como uma trama paralela de um filme com várias tramas.


LEGADO SEGUNDO
Gostaria de escrever uma estória de amor sofrido. Que coloca em cena um embate de idades.
Uma mulher chamada Lucília (a pedido do blogueiro Bayão) tem dois amantes. E ama os dois. Verdadeiramente, sem saber escolher porque eles lhe oferecem coisas muito diferentes.
Um é muito mais velho e outro muito mais moço que ela.
Penso que eles se odeiam. Embora mal se conheçam. E desejam a morte, um do outro. É um thriller, com suspense. O velho planeja detalhadamente matar o moço, que por sua vez, planeja matar o velho. Pois nenhum dos dois conseguiria viver sem Lucília.
No desenrolar da trama, é ela quem morre primeiro, não sei bem como. Talvez nem saibamos quem matou, posto que ela estava num fogo cruzado. Imagino cenas fortes.
1. O encontro dos dois rivais tentando convencer um ao outro a largar a mulher, para não se tornarem assassinos.
2. A descoberta de Lucília que algo terrível está para acontecer. Embora na aparência, seja uma risonha história de paixão.
O jovem morre também, assassinado pelo velho. Desesperado porque Lucília morreu.
E fica vivo, ele é o sobrevivente. Fica quem não devia ficar: O velho sobrevive. Talvez seja uma tragédia, mas melhor que seja uma comédia. Inglesa. Elegante.


LEGADO TERCEIRO
Histórias podem partir de uma situação, até de um sentimento, ou diretamente de um personagem.
Nosso personagem é um confidente profissional. Com a vocação de um confidente. Tudo começou quando ele parou de guiar automóveis, ficou com medo dos outros automóveis e tornou-se um carona contumaz. Então ele ouve confidências de quem guia. Vantagens da fobia. Dois casais lhe dão carona freqüentemente. Digamos o casal A e B e o casal X e Y. Carona para o trabalho, de volta para o trabalho. Um para a pesca do fim de semana, de volta da pesca. Então ele recebe, uma a uma, as confidencias de A, em crise de casamento com B, e amante de Y. Depois de X, em crise no casamento com Y, e amante de B. E assim por diante, ele toma conhecimento de tudo. Sendo que os amantes não sabem que são traídos.
Uma cena interessante seria um jantar dos cinco, no qual todos aparentam casais felizes. E ele sabe de tudo e tem suas idéias próprias, de quem deveria ficar com quem. Então ele manobra e consegue trocar os casais. Mas nada dá certo, etc., cupido não se deixa manobrar, todos acabam descobrindo que ele sabia e querendo trucidar. Sentindo-se traídos porque não foram comunicados.
Não sei como termina isso. A única coisa que sei é que a última imagem é ele sozinho, guiando um carro velho que comprou.
É possível que ele seja viúvo de uma mulher fiel, que ele nunca traiu. E que agora, depois de anos, esteja se engraçando desajeitadamente de uma senhora bem sapeca, da vizinhança.
É uma comédia Molieresca.
Há pessoas assim.



AUTO-AJUDA:
Nunca entendi porque a transmissão de experiência de uma pessoa para outra chama-se "auto-ajuda". É o outro que ajuda, com sua vivência evita uma repetição de erros. Não acho que esse tipo de livro seja tão imbecil assim. Em geral, repetem sabedorias ancestrais de modo mais ou menos moderno. Ou lembram as regras primeiras do bom senso.
Em geral, dentro de um livro desses há sempre um pensamento útil, afinal, sabedoria é como mãe, cada um tem a sua.
Sou da geração de Dale Carnegie, que pintou e bordou, na época dele. Vendeu tanto quanto Paulo Coelho ou Fritzkahn com um livro chamado "Como vencer na vida e influenciar pessoas". Eu, com 15 anos, gostava muito. Enfim, da semana que vem em diante, coloco aqui os cacos de sabedoria da minha lavra. Ou minhas frases prediletas. Tentarei dar uma estrutura a tudo isso. Dizem que os bons conselhos são aqueles que você não precisa seguir.
"A vida é uma estória contada por um louco. Cheia de som, cheia de fúria, e significando porra nenhuma." Ou "um momento de beleza e uma alegria para sempre". Ou ainda "the world is a word, o mundo é uma palavra." que dizem que é de Shakespeare, mas eu nunca achei em peça nenhuma.